Senhor dos Trilhos

Dirigir um bonde é fácil, fácil. O difícil é querer descer.

Trrrim. Trrrim, trrrim. A campainha de metal do bonde avisa sua chegada. Feito em 1909 na Escócia, o bondinho que passeia entre os prédios antigos parece tinindo de novo. Não é para menos.

O bonde de 1909 parece até 0km.

O bonde de 1909 parece até 0km.

Recentemente foi restaurado pela prefeitura de Santos (SP) para virar atração turística. Ao subir, o motorneiro explica como guiá-lo. É tudo bem simples. Volante não há. O bonde segue o caminho que o trilho mandar. Se topar com uma bifurcação, o condutor (que é quem cobra as passagens) desce e muda a conexão. Depois é só acelerar.

 

A manivela que é acelerador.

A manivela que é acelerador.

Acelerar, aliás, é a melhor parte. Com o braço esquerdo, gira-se uma manivela semelhante a um grande ponteiro. Move-se o ponteiro no sentido horário para acelerar, indo até a quarta marcha. O macete é nunca deixar a mesma marcha engatada por mais de 30 segundos. Senão o motor pode superaquecer. À direita do acelerador, uma pequena chave reverte o motor, para dar a ré.  O freio fica na mão direita. É um sistema hidráulico, adaptado na década de 50. É só acionar a alavanca. Devagar, senão as rodas travam de repente.

Depois é só diversão. O tempo todo se trabalha em pé. Bem no meio do bonde, sentindo o balanço do vagão, a reação espantada de quem passa e o vento que entra pelo vidro da frente. Vento que vem devagar, pois não se passa de 50 km/h. A cada curva, ouvimos o chiado metálico das rodas brigando com os trilhos. O som é igualzinho ao de um trem.

Quando o ponto final se aproxima, pisamos no pedal para tocar de novo a sineta, anunciando o fim da viagem e a única parte difícil de se dirigir um bonde: a hora de descer. Trrrim. Trrrim, trrrim.

 

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